Ah, cumo era bão!
Sodade da criancice
nos festejo de São Juão,
o pai armava a foguera,
a mãe fazia quentão,
doce de abobra, canjica,
minduim, pipoca, pinhão,
inquanto nóis, fiarada,
varria tudo o terrero,
despois infeitava de frô,
de fita e de banderinha.
Quano tudo tava pronto
já era de tardezinha
e nóis ia se aprontá.
Tomava banho na tina,
ponhava ropa de festa
passava água de chero
e corria abri a portera
pos cunvidado que vinha:
Tião do Fole, Zé Pandero
e as famiage vizinha.
Pai acendia a foguera,
erguia o santo no mastro
despois sortava rojão.
O pessoá se juntava
tudo em vorta do artá
dano viva a São Juão
e a lovação prucedia
nos cunforme a tradição.
Só quano a reza acabava
mãe sirvia as cumilança
e os tocadô dava o toque
pa cumeçá a diversão.
Tano de barriga cheia
pai chamava as criança
pa ganhá forfe de cor
que agora num egiste mais.
Buniteza era vê
os foguinho culorido
que nóis acendia e girava
rodopiano no terrero
(só quem viu sabe cumo é)
inquanto os mais véio pruseava
e a moçada se adivertia
dançano o arrasta-pé.
A festança era tão boa
que durava inté acabá
despois que o fogo arriava,
hora de pagá promessa,
de pulá a foguera em brasa
em homenage a São Juão,
que pur um ano inteirinho
num dexô fartá fejão
po sustento das famía,
nem tempo bão pro prantio,
seno a coieita bem farta
tamém do arroiz e do mio.
Sodade da criancice
nos festejo de São Juão,
dos tempo vivido na roça...
Ah! Cumo era bão!
Isabel Pakes