Corpo
e Alma, Brasileiro
Em minhas veias flui o sangue de
muitas raças, por isso sou assim, um pouco indígena, um pouco europeu, um pouco
afro, um pouco asiático... Americano mestiço. Meus braços concentram forças
seculares, herdadas de outros tantos braços arrojados que a seu tempo rasgaram
mares, desbravaram matas, estenderam fronteiras, lavraram solos, edificaram cidades
e metrópoles. Por isso, minhas mãos são firmes e hábeis.
Dai-me ferramentas: uma pá, uma caneta,
uma enxada, um bisturi, uma agulha, um pincel, um martelo... E verás uma potência indestrutível se erguer
sobre este chão. Em minha mente se mesclam culturas advindas de outras terras,
outros continentes, por isso a minha linguagem é doce, minha arte é farta e
abrangente, o meu canto alegre, minha dança contagiante e a minha ciência...
Ah! Confiai nela, cultivai seus fundamentos, concedei-lhe os meios e
surpreenderás o Universo!
Ainda que em meu peito o frêmito não
cesse... Amo demais! É tão grande o coração que tenho, que não pulsa, ribomba
sem parar pela constância da emoção. E se a sorte me atraiçoa, me abordando
numa curva mal traçada pra tirar-me um bem precioso e uma dor pungente se ergue
de repente à minha frente, feito uma muralha onde meu sonho se estraçalha, eu
choro. Amargo pranto, sofrido, soluçado... Choro muito, choro tanto, que o
mundo inteiro se salga com meu pranto - Réquiem para um bravo campeão. Ayrton
Senna, saudade...
Mas, se num tento de consolo, logo a
ventura me acode impelindo pra bem alto o lance que me aflige, eu rio, eu rio e
pulo e canto e grito: Brasil! Brasil! Brasil! E tomo nos braços um sonho novo
pra embalar. Colo em meu peito uma estrela a mais, agito minha bandeira e outra
vez me ponho a acelerar...
Em minha aparência, reconheço, às vezes se
acentuam traços de desolação e indignação, pelas falácias e camuflagens com que
tentam me oprimir, me escamotear, mas daí, eu retoco as cores da minha cara e
vou às ruas com garra e vontade de vencer, ainda mais verde/amarelo de
esperança e energia, azul e branco de idéias claras e pacíficas! E não demora,
sou de novo cem, mil, milhares, milhões de vezes mais varonil, com a força
imbatível de uma nação inteira, justa e guerreira, abençoada por Deus!
Eu sei que fatos obscuros do passado
projetam suas sombras adiante em meu caminho, eu sei e não me iludo, mas não
temo! Seguirei aprendendo com as experiências, discernimento e perseverança,
adquirindo hábitos corretos de viver e trabalhar com dignidade, pelo ideal
comum. Sempre avante, até que as sombras se dissipem e, finalmente, a ORDEM E
PROGRESSO façam jus ao lema que carrego e ao HINO que entôo, e eu possa, então,
conduzir o meu futuro à luz fulgurante do saber e da liberdade, com amor fraternal!
Eu creio nisso! Creio na LEI que ampara
os justos e exalta os oprimidos. E em minha fé persisto, em minha fé resisto! A
dor me inquieta, mas não me consome. O mal me assalta, mas não me corrompe.
Porque eu sou assim, um povo heroico, forte e amoroso, gerado pela mescla do
sangue de muitas raças, provando ao mundo que é possível sim, viver em
harmonia, um povo mestiço, porém, corpo e alma BRASILEIRO!
~ Isabel Pakes
(07/09/1994)
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