"O amor é a força mais sutil do mundo." -- Mahatma Gandhi

terça-feira, 24 de abril de 2012



Conjecturas... 

Ontem ela esteve em minha casa, uma senhorinha idosa que muito vagamente se lembra das vivências por quais passou. Chegou toda alegrinha, muito sorridente, afagou o meu rosto e sentou-se no sofá, e ali ficou, como sempre faz, com os seus trejeitos próprios da idade avançada e senil, ouvindo as conversas à sua volta, porém, sem se inteirar dos assuntos, sem entender nada, mas rindo muito quando ríamos, mesmo sem saber a razão, enquanto acarinhava Sophia (minha cachorrinha) e falava com ela como se fosse outra criança. Digo outra, porque essa é a impressão que essa senhorinha me passa, de uma criança, apesar dos seus aspectos físicos muito envelhecidos, como se a própria vida tivesse se subtraído, em grande parte, de sua memória. Como se a VIDA, nela, apenas resguardasse o seu tempo de inocência. Como se tudo o mais fosse tão somente experiências terrenas necessárias, boas e não boas, que na “prova dos noves fora”, resultassem à sua VIDA, apenas o estritamente necessário para o seu desenvolvimento espiritual na rota evolucional. Conjecturas minhas, elucubrações... Nada de mais.

Isabel Pakes





Imagem Google



domingo, 15 de abril de 2012



A ponte


Nem a profundidade do rio,
nem o peso do trem,
nem a “fragilidade” da ponte.
Era o medo.
Medo do meu medo,
medo de pensar...
e a ponte ruir.

Fechava a cortina,
fugia de ver,
me escondia de mim.
Comprimia meu pensamento
dentro dos meus olhos rasos,
cerrados.

Não via o rio,
"salvava" o trem, porém,
 não “fortalecia” a ponte.
E o medo medrava à volta,
empanava a paisagem,
turvava a viagem.

Mas, uma noite, 
uma estrela atraiu o meu olhar.
Rútila luz, tão bela
pôs-me em êxtase a contemplar...
E o trem transpôs o rio
sem dar tempo de eu medrar.
E foi aí, nesse momento,
que aprendi a pensar. 

Meu pensamento caldeado
no fogo do coração
como o ferro foi forjado
em cruz de sublimação -
- ponte segura, perene...
Não tenho mais medo, não!
Quem ao alto estende os olhos
escapa aos temores do “chão”. 

                                                    Isabel Pakes

Imagem Google


domingo, 8 de abril de 2012



Haikai


Nas reviravoltas das ramas
a inconstância do vento
e o descaminho das águas.


                                                         Isabel Pakes



segunda-feira, 2 de abril de 2012



Cerquilho Cidade Menina  
  
Quando passeio meus olhos por tuas ruas e praças 
tuas rosas me saúdam e fico orgulhosa de ti! 
Lembro-me de que nasceste de um humilde vilarejo 
onde abrigavas tropeiros que na calidez do teu colo 
descansavam seus quebrantos... 
Lembro-me dos estrangeiros, audaciosos lavradores 
chegados na Estação, trazendo de além-mar 
nada mais que garra e força, nada mais que amor e fé 
e tuas terras verdejaram, vestindo-as de cafezais! 
Lembro-me dos saber adentrando tuas portas; 
tua primeira professora, teus primeiros aprendizes, 
teu borburinho infantil no velho grupo escolar! 
Lembro-me do teu grito quando a dor te estilhaçou, 
do teu pranto, do teu luto, das tuas flores soterradas... 
E de como renasceste, como a hera entre as ruínas, 
tímida, assustada, mas ansiosa por viver! 
Quantas lágrimas te banharam! Quanto suor te regou! 
Mãos de aço, incansáveis, te soergueram das cinzas 
e te fizeram mais forte, mais vigorosa ainda! 
Lembro-me de como creceste vitoriosa! 
Do verde-cana mesclando-se ao verde-cor do café... 
Das tuas indústrias ativando suas rodas denteadas 
para nunca mais parar. 
Lembro-me dos teus filhos, trabalhadores devotos 
que honram teu padroeiro, teu amado São José! 
Dos teus filhos cujos braços sempre abertos  
acolhem quem te procura buscando o teu amparo 
e cujas mãos se entrelaçam, unificados na prece, 
entoando louvor e glória à providência dos céus! 
Lembro-me da tua bandeira que baila com a brisa, 
toda vaidosa ostentando os frutos do teu trabalho, 
margeando de azul anil as páginas da tua história! 
Ah... Minha cidade menina! 
Tão robusta, mas menina. Radiante, graciosa! 
Exalas essência de rosas e provocas dentro em mim 
algo que não explico, porque não sei definir. 
Só sei que estou orgulhosa, muito orgulhosa de ti! 

                       Isabel Pakes - 1987


Cerquilho/SP - 63 anos em 03/04/2012