"O amor é a força mais sutil do mundo." -- Mahatma Gandhi

sábado, 4 de agosto de 2012



Apatia 

A noite me viu tão triste que chorou estrelas... 
E enviou-me a brisa que me sussurrasse um acalanto, 
adormecesse em mim tanto quebranto,
tanto desejo de não ser...

(Tanta querença e este desencanto!) 
  
Mas o meu ego, surdo e cego, recoberto por escamas, 
dessas que a alma tece para abafar as chamas, custava serenar. 
  
Então veio a alvorada! 
Adiantou-se em sua hora em meus cuidados, 
beijou-me a boca, a fronte, os pés... 
Que a luz viesse dissipar-me as brumas, 
se infiltrasse em minhas amarguras e me sanasse, enfim. 
Minúsculos sóis se pontilharam, às dezenas, 
na transparência das gotas orvalhadas e em mim...
em mim, nada!

(Tanto ardor e este frio!) 
  
E me encontraram as Onze-Horas
ainda recolhida ao desconforto. 
Essas florinhas tímidas se me abriram
com uma humildade santa 
que quase, quase me alentaram, 
não fosse em mim a dor maior que a fé, neste instante.

(Tanto néctar e este acre!) 
  
Tanta vida e esta apatia! 
Aonde foi a seiva que me vicejava e o mel que me adocicava?
Aonde foi você? 

                   Isabel Pakes (1966)





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